quarta-feira, 14 de março de 2012

Em que fase você se encontra?



Pensamos demasiadamente
Sentimos muito pouco
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.
Charles Chaplin
Sabemos que a dança do ventre é uma jornada para o resto da vida de todas as mulheres que se predisponham a levá-la a sério e tê-la consigo como balizamento emocional, e elemento estruturador da auto-estima.  Em se tratando de aprendizado com intuito profissional, existem algumas fases que devem ser conhecidas:
1) Sede de aprendizado - Tudo começa quando uma mulher tem o primeiro contato com a dança e vislumbra a possibilidade de vir a aprendê-la.  Nesse instante, quer saber tudo o que a professora sabe, e acredita que em um mês estará totalmente desenvolta a fim de se apresentar para quem mais gosta.
2) Desânimo ao achar que nunca vai aprender (primeiros 6 meses) - Aparece nas primeiras dificuldades com movimentos mais elaborados e que necessitam coordenação específica.
3) Confiança em acreditar que pode fazer (1 ano) - Após superar o desânimo e continuar com perseverança seus estudos de dança, percebe que, com treino, consegue fazer alguns dos movimentos já suficientes para cumprir os objetivos para os quais se determinou.
4) A primeira dança para o público - É o momento mais importante.  Aqui fica definida qual a estrada que vai trilhar.  Se as palmas e os elogios acontecem, provavelmente inicia-se um processo de euforia e a crença de que poderá ir além.
5) Início de danças para o público com mais freqüência (2 anos) - Início de uma fase difícil de lidar.  A bailarina acredita que domina seu público e que "já sabe tudo"e "pode ensinar muito".  Ouve pouco e fala demais.  Inicia uma fase de auto-confiança semelhante a uma bolha, que pode esvaziar a qualquer momento.  Ela mesma desenha para si uma promessa de sucesso; sua preocupação principal: o cachê. O ego começa a contrastar.
6) Desequilíbrio com o ego e dificuldades em lidar com a humildade - Lida com elogios de forma desequilibrada, podendo perder os traços de humildade.  É a tendência para criticar e o desconforto extremo quando vira para si o alvo da crítica.  Nesse momento, geralmente, começa a dar aulas, despreparada e sem a generosidade necessária.  Assim, não oferece a suas alunas o que de fato deveria.
7) Estrelismo (3 anos) - A pior de todas as fases.  O momento negro na carreira da bailarina de dança do ventre profissional.  Acredita que ninguém sabe mais do que ela: "todos precisam aprender".  É a senhora das palavras, das opiniões e das verdades.  Modéstia passa a ser uma palavra desconhecida e o convívio social é permeado pelo interesse profissional.  Por vezes, ao ser questionada sobre seu tempo de estudos em dança do ventre adiciona todos os cursos de balé que já fez na vida e diz "já estou trabalhando nessa área há dez anos", quando na verdade só começou a estudar a dança oriental há dois.  A inflação no tempo de experiência pode ser extendida para a lista de apresentações profissionais e até mesmo a dança no clube do bairro está lá presente no currículo.
8) O sucesso não chegou como previsto - É o momento da dúvida: afinal, o que saiu errado? A cartilha dizia que era esse o caminho; em que ponto do mapa fica o sucesso tão almejado?  O mapa, na verdade, não existe, e a bailarina percebe que precisará escrever seu próprio mapa, se desejar continuar.
9) Desânimo com o que já sabe - Acontece ao perceber que faz sempre as mesmas coisas, os mesmos movimentos, e dança sempre com as mesmas músicas.  Surge a sensação de que parou no tempo.  Já não se contenta mais com o pouco que desenvolveu e entra em depressão com a dança.  Em muitos casos, acaba realizando suas apresentações meramente para angariar recursos financeiros; é uma fase perigosa, pois a tendência aqui é "criar" formas de chamar a atenção para a dança, coisas que ninguém nunca fez e que, eventualmente, podem ser um grande chamariz para atrair as pessoas ou a mídia.  Um desrespeito à cultura e à arte.  É uma fase de procurar atalhos.
10) Estacionar com o aprendizado (4 anos) - Além do tédio de ter que se apresentar sempre com as mesmas músicas, as mesmas roupas (pois o ânimo e a criatividade parecem que foram embora para sempre), agora parece que já não existem fontes confiáveis e conhecimentos para adquirir, e o jeito será manter a dança como fonte de renda financeira, por mais pesado que pareça este fardo; e aparece a preocupação "tenho que aumentar meu cachê... afinal já estou há quatro anos trabalhando como profissional!".
11) Indecisão sobre a dança e seus propósitos pessoais - A dúvida começa a pairar.  Foi realmente um acerto ter escolhido esta estrada?  Acredita que já aprendeu tudo o que podia.  E mesmo assim o questionamento "ser uma estrela" ou "ser uma farsa" tem um grande impacto emocional.
12) Decisão de procurar novas fontes (5 anos) - Se conseguir superar a fase anterior, inicia-se um novo horizonte, com idéias, fluxos de criatividade e vibrações de possibilidades que antes pareciam obscuras.
13) Necessidade de reconhecimento - Começa a acreditar que ninguém, neste período todo de carreira, reconheceu seu valor e tudo o que aprendeu durante anos.  O mundo não a compreendeu e não reconhece o talento visível que é.
14) Amadurecimento e respeito pela arte (10 anos) - É o momento em que se atinge o primeiro platô de sabedoria.  Percebe que ainda não aprendeu absolutamente nada do que existe neste manancial de cultura e começa a respeitar mais seu corpo e seu aprendizado.  Percebe que a estrada é mais longa do que imaginava e agora a incorpora para sempre.  Já faz parte do seu sangue conviver com o aprendizado da dança.  A humildade começa a aparecer e fica difícil a convivência com as iniciantes que se encontram na fase do desequilíbrio com o ego.
15) Procura incessante por novas fontes e maneiras de dançar - O prazer agora, mais do que nunca, está na descoberta do que durante tantos anos esteve oculto: o conhecimento.  Encontra as respostas para muitas atitudes de antes e com tudo que toma contato percebe um sentido melhor, pois já teve oportunidade de sentir e compartilhar pessoalmente no passado.
16) Equilíbrio artístico e definição de métodos de ensino - Já não faz tanta diferença como os outros pensam ou como o mercado reage às suas investidas.  Desenvolve seu trabalho procurando sempre ferramentas para aprimorar seus métodos para ensinar, passar a frente tudo o que aprendeu.  O aprendizado e o aperfeiçoamento agora importam demais para si.
17) Especialização de danças e investimento na imagem (15 anos) - Começam a fazer parte do currículo danças folclóricas dos países árabes, mediterrâneo, sempre embasadas em um amplo conhecimento em cada assunto.  Seu nome começa a ganhar destaque no mercado da dança.  Cresce a credibilidade e desenvolve um trabalho sério.  Surgem os workshops.
18) Ensino do que aprendeu na carreira - Agora o mais importante é a alavancagem de maior conhecimento possível.  Esta passa a ser a fonte de seu prazer.  Sua dança só enriquece se descobre novas fontes de conhecimento; e delas sempre se utiliza para o aperfeiçoamento de movimentos e o ensino.
19) Plenitude na dança e fonte de pesquisas (20 anos) - O prazer artístico está alicerçado em conhecimento e saber; realiza com o corpo o que desejar e, graças aos anos de pesquisas empreendidas durante a existência, tudo tem coerência e os pontos de estudo parecem alinhavados.
20) Dúvidas sobre quando parar de dançar - É um momento delicado na carreira de toda bailarina e de qualquer artista.  Relutância em acreditar que suas apresentações iniciam uma fase descendente em se tratando de tempo; super-valorização do momento presente.  O tempo passa para todos.
21) Nostalgia e respeito público (mais de 25 anos) - Seu nome acaba sendo respeitado e admirado por todas aquelas que fazem parte do meio.  As lembranças pessoais parecem recentes... Se conseguiu construir uma carreira íntegra, acaba tornando-se uma "lenda viva" na arte.  Torna-se fonte de consultas permanente e admira-se com os novos talentos que despontam.  No fundo, lamenta que todas tenham que passar por cada uma dessas fases, se quiserem chegar onde chegou.  Umas se perderão no caminho, outras florescerão.  Afinal, a vida sempre foi um turbilhão de desafios.
Evidentemente, o tempo de dança varia de mulher para mulher e da mesma forma as fases podem ter períodos de continuidade diferentes.  Um fator interessante e também muito importante é que tendo conhecimento de que essas fases existem pode-se diminuir sua longevidade e atenuar muitos dos aspectos negativos, principalmente das fases iniciais.
Faz parte da carreira de toda bailarina conviver com essas fases: elas determinam seu desenvolvimento e crescimento.  Nada fácil por sinal.
Esta é minha visão do mundo da dança do ventre no Brasil, depois de conviver desde 1983, diariamente com essa arte. 
Jorge Sabongi - Agosto 2000(esta matéria foi escrita e publicada na Revista Khan el Khalili No. 2)

sexta-feira, 9 de março de 2012

Adquirindo cultura e exigindo respeito.


Você faz a dança dos sete véus?

Familiar, não? Pois é. Se você é bailarina do ventre, já deve ter ouvido pelo menos uma vez na vida essa pergunta. É só anunciar seus dotes artísticos para escutar de ummané engraçadinho: "Legal! Você faz a dança dos sete véus?" Geralmente, quem pergunta tem um olhar um pouco malicioso sobre a dança do ventre e está claramente imaginando um striptease.

pergunta pode até causar surpresa, mas não podemos nos esquecer de como a história deSalomé está ligada à ideia que omundo ocidental tem da dança do ventre. Se pensarmos bem, não deveria haver espanto algum: a lenda nos conta a história de uma mulher bonitatalentosa e... fatal (uhh!).Salomé daria uma ótima vilã de um filme do James Bond, não acham?

Sem mais delongas, resolvi buscar na internet algumas informações sobre esse mito. Assim, da próxima vez, a pergunta sobre a dança dos sete véus vai até te render um bom papo.

A lenda

Após um caso de adultério entre Herodias (ou Herodíade) e seu tio (ou cunhado) Herodes Antipas, ambos se divorciam de seus cônjuges para que possam se casar. João Batista protesta publicamente contra o casamento, em parte porque ambos eramdivorciados e porque casar com o irmão do ex-marido era visto como incestuoso.

Herodes Antipas pressiona João Batista a parar com os protestos, mas não o condena à morte por temerrepresálias por parte das massas, que acreditavam que João era um profeta. Herodias detestava Joãopois ele condenava publicamente a sua união comHerodes Antipas, chamando-a de "casamento adúltero".

Herodias tinha uma filha chamada Salomé, de seu primeiro casamento, que morava com ela e seu novo marido em seu palácio.

Durante a festa de aniversário de Herodes, a jovem e bela Salomé dança para o marido da mãe e seus convidados, despindo-se de cada um dos sete véus até que não sobre quase nada (ou nada) cobrindo seu corpo. Herodes fica tão satisfeito com sua apresentação que faz um juramento solene na frente de todos os seus convidados: ele promete dar à jovem o que ela quiser. A pedido da mãe, Salomé pede a cabeça de João Batista. Embora Herodes não quisesse fazê-lo, sentiu que tinha de cumprir o juramento que havia feito perante todos. Assim, ele ordena que João Batista sejadecapitado e sua cabeça entregue à Salomé.


O que a Bíblia diz

Mateus 14:6-11

Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante dele, e agradou a Herodes.

Por isso prometeu, com juramento, dar-lhe tudo o que pedisse;

E ela, instruída previamente por sua mãe, disse: Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João o Batista.

E o rei afligiu-se, mas, por causa do juramento, e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse.

E mandou degolar João no cárcere.

E a sua cabeça foi trazida num prato, e dada à jovem, e ela a levou a sua mãe.


Marcos 6:21-28

E, chegando uma ocasião favorável em que Herodes, no dia dos seus anos, dava uma ceia aos grandes, e tribunos, e príncipes da Galiléia,

Entrou a filha da mesma Herodias, e dançou, e agradou a Herodes e aos que estavam com ele à mesa. Disse então o rei à menina: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.

E jurou-lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, até metade do meu reino.

E, saindo ela, perguntou a sua mãe: Que pedirei? E ela disse: A cabeça de João o Batista.

E, entrando logo, apressadamente, pediu ao rei, dizendo: Quero que imediatamente me dês num prato a cabeça de João o Batista.

E o rei entristeceu-se muito; todavia, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lha quis negar.

E, enviando logo o rei o executor, mandou que lhe trouxessem ali a cabeça de João. E ele foi, e degolou-o na prisão;

E trouxe a cabeça num prato, e deu-a à menina, e a menina a deu a sua mãe.


Alguns detalhes merecem atenção:

*A Bíblia não diz que o nome da filha de Herodias era Salomé. O nome surgiu a partir dos escritos de Josefo, historiador e apologista judaico-romano.

*A Bíblia não especifica que tipo de dança ela fez e se Salomé usou véus, tirou a roupaou fez algo no estilo sedutor. Tais interpretações da história vêm de outras fontes.


O texto original da Bíblia

De acordo com o artigo "God Belly Danced, Part III" de Qan-Tuppim, do site The Gilded Serpent, a palavra original grega usada no Novo Testamento para se referir à Salomé ékorasion, que significa "menininha ainda não crescida o suficiente para ter seios ou menstruar". Já a palavra utilizada para a dança feita por Salomé no original é orxeomai, que não significadança, mas algo como "brincadeira de criança". Baseado nisso, Qan-Tuppim conclui que Salomé era provavelmente apenas umaadorável menininha, a Shirley Temple de sua época.




Mas então de onde vem a tal dança dos sete veús?


Se a Bíblia não ligava a morte de João Batista a uma sedutora striptease envolvendo sete véus, de onde essas ideias vieram? E como elas se relacionaram com a Dança do Ventre?

No final da década de 1890 e na primeira parte do século XX, escritores e pintores do movimento de arte europeu conhecido como Orientalismo ficaram fascinados pelo Oriente Médio. Esses artistas viram na história de João Batista um prato cheio para suas criações, com todos os elementos que interessavam o público: conotações sexuais (a dança, que eles escolheram interpretar como sedutora), assassinatopolíticaadultério, e a conexão com a Bíblia que tornou, de certa forma, a história mais aceitável para ser contada numa sociedade conservadora.

Há ainda quem acredite que a Dança dos Sete Véus tem origem em um dos mitos deIshtar, que conta a descida da deusa da mitologia mesopotâmica ao mundo dos mortos. Como curiosidade, fica aqui o conto:

"A deusa empreende esta jornada em busca de Tammuz, seu amado, que havia morrido em um moinho de grãos. No mundo dos mortos, Ishtar é obrigada a atravessar sete portais e a deixar, em cada um deles, um ornamento ou peça de sua vestimenta. [...]

Quando Ishtar ressurge dos abismos, a vida renasce na terra, os campos se cobrem de relva verde e nos rios volta a correr água abundante. A dança dos sete véus é por vezes associada a essa passagem da mitologia de Ishtar, sendo esta uma da mais famosos, belos e misteriosos ritos primitivos.

Esta dança não era praticada em ritos de fecundação como muitos acreditam; mas pelas sacerdotisas dentro dos templos da Deusa Egípcia Ísis; posterior à Ishtar mas com clara influencia cultural da mesma. A sacerdotisa oferecia a dança para a Deusa que dentro dela existe, e lhe da beleza e força.

Essa dança era realizada em homenagem aos mortos. As sacerdotisas, em seus templos, retiravam não só os véus, mas todos os adereços sobre o seu corpo, para simbolizar a sua entrada ao mundo dos mortos sem apego a bens materiais – neste caso, em uma clara analogia à Ishtar.

Determinada, Ishtar atravessou os sete portais do submundo, e em cada portal deixou um de seus pertences: um véu ou uma jóia (cada um deles representando um de seus sete atributos: beleza, amor, saúde, fertilidade, poder, magia e o domínio sobre as estações do ano). O véu representaria o o que ocultamos dos outros e de nós mesmos. Ao deixar os véus Ishtar revela sua verdade e consegue unir-se a Tamuz." (Trecho retirado dehttp://vinhoecigarros.blogspot.com/2007/09/deusa-ishtar-2000-ac.html)

A peça de Oscar Wilde

No outono de 1891, o dramaturgo irlandês Oscar Wildeescreveu uma peça intitulada Salomé. Em 1892, ele a mostrou a Sarah Bernhardt, que imediatamente quis organizá-la e interpretar seu papel-título. Eles ensaiaram, mas foram forçados a abandonar o projeto quando ogoverno britânico lhes negou a licença. Motivo: a peçaviolava uma antiga lei da era puritana que proibia a representação pública de personagens bíblicos.

Finalmente, em 1896, a peça foi produzida na França, que não seguia tais leis. Em 1902, a peça foi apresentada em Berlim, com grande sucesso.

A peça de Wilde retrata Salomé como uma personagembizarra e um tanto malvada, que fica obcecada por João Batista, mas em seu script, pode-se notar que não há nada que especifique que a dança de Salomé deva sersedutora ou que ela deva se despir de sete véus. Apesar disso, é possível que Wilde tenha instruído o diretor para que interpretasse o script dessa forma.


A Ópera de Strauss

Inspirado pela peça de Oscar Wilde, Richard Strauss, compositor e maestro alemão, compôs uma ópera baseada na história de Salomé. A ópera popularizou ainda mais a versão deWilde para a história e promoveu uma espécie de apelo sexual, durante uma época sexualmente reprimida, quando a "arte" era o único veículo publicamente aceitável para retratar a nudez.


Enquanto isso, nos Estados Unidos...

Em 1893, a Dança do Ventre suscitou seu próprio escândalo na Exposição de Columbia, em Chicago (World's Fair). Os americanos assistiram chocados a dançarinas que mexiam o corpo de uma maneira que os espartilhos da moda local nunca tinham permitido (!)Um dos promotores do evento, Sol Bloom, chamou essa "dança escandalosa" de belly dancing(dança do ventre), e é com esse nome que a dança oriental é conhecida no Ocidente até hoje.

O Circuito de Vaudeville abraçou alegremente o interesse do público despertado pelo escândalo e criou sua própria interpretação da Dança do Ventre, chamada de "hoochy coochy". Nas décadas seguintes, esta acabou se tornando o striptease moderno.

Logo, os filmes de Holywood que se seguiram mostraram suas próprias interpretações deSalomé e contribuíram para construir a ideia da "Dança dos Sete Véus". Logo abaixo, Rita Hayworth como Salomé:



Na mesma época, Isadora Duncan experimentava as ideias do Oriente Médio para criar suas coreografias. Fã dos tecidos fluidos como a seda e o cetim, Isadora geralmente usava vestidos e lenços feitos desses materiais em suas apresentações.

Tudo isso acabou relacionando "dança do ventre" a "véus esvoaçantes" na cabeça doseuropeus e dos americanos que iam ao teatro.


Mas então, alguém já fez realmente a Dança dos Sete Véus no Oriente Médio?

Como todos devem saber, no Oriente Médio, o véu era (e ainda é) uma peça modesta usada para proteger umarespeitável mulher mulçumana dos olhos curiosos dos homens estranhos. Seria inaceitável usar um "véu" como acessório em um espetáculo de dança. Ainda mais se a dançarina se despisse de sete veús até ficar completamente nua no palco!

Antes do século XX, as mulheres no Oriente Médio dançavamcompletamente vestidas e emtrajes comuns, cotidianos. Não havia uma "roupa para dança". As dançarinas que se apresentavam em casamentos, festas de dias santos e outros eventos simplesmente usavam o mesmo tipo de roupa que as outras pessoas.

As casas noturnas surgiram no Egito e no Líbano na primeira metade do século XX para saciar a ânsia que os visitantes britânicos, franceses e outros europeus tinham de ver asdançarinas locais. Para atender às suas expectativas, as dançarinas começaram a adotar o tipo de roupa que Hollywood inventara: o conhecido conjunto bustiê-cinturão-saia. Mas ainda assim as dançarinas não faziam qualquer tipo de dança com véu.

Na década de 40, Samia Gamal entrou no palco com umlongo tecido. Esta é considerada a primeira ocorrência registrada de uma dançarina "realmente" oriental usando um tecido do tipo como acessório de dançaSamia fez isso porque, na época, tinha aulas com Anna Ivanova (famosa bailarina russa), que sugeriu que sua aluna usasse o tecidopara melhorar o movimento dos braços.

É importante ressaltar que nem Samia Gamal e nem as dançarinas egípcias que mais tarde seguiram seu exemplo se referiram a esses tecidos como "véus". Elas nunca sedespiram deles durante uma apresentação. Em vez disso, as dançarinas egípcias seguram o tecido ao entrar no palco, giram com eles e o descartam antes de começarem adança principal.


Conclusão


"Dança dos Sete Véus" nunca fez parte dastradições do Oriente Médio e não é realizada por lá até hoje. Ela foi criada pela mente dos europeus e foi preservada graças à indústria doentretenimento. Porém, ainda hoje, o público em geral acredita que a Dança dos Setes Véus foi apresentada por Salomé a Herodes, ainda que aBíblia nunca tenha dito isso. Graças à peça deOscar Wilde, à ópera de Strauss e aos váriosfilmes de Hollywood que descrevem Salomé, aideia parece realmente ter vindo para ficar.

Atualmente, muitas dançarinas têm criadoreleituras para a Dança dos Sete Véus e, é claro, não há nada de errado em usar de nossa "licença poética" para criar nossas própriasinterpretações para esse mito. O processo criativo de buscar outras formas de se dançar com os sete véus e fazer uma apresentação ser vista como uma expressão artística, e não como um striptease ou mais uma repetição enfadonhade modelos já vistos, pode se tornar bastantegratificante para uma dançarina.

É importante que se conheça o contexto histórico em que essa dança surgiu, pois, dessa forma, saberemos também identificar que tipo de público vai responder bem a umaapresentação e que tipo de plateia vai achar tudo muito esquisito ou pensar que vai assistir a um striptease, sem valorizar a nossa arte.

A seguir, a interpretação da dançarina Najla al Hafsa para a Dança dos Sete Véus.



Fontes: Shira.net

quarta-feira, 7 de março de 2012

Odaliscas-Você sabe de onde vem este termo?

 Em comemoração ao dia internacional das mulheres que se aproxima, pensei em lhes postar um texto que valorizasse ainda mais o nosso poder de decidir sobre a nossa própria vida, algo que parece hoje tão fácil de fazer, mas que nem sempre foi assim.......


Antes de admitir as escravas dentro do Harém, eunucos especialmente preparados examinavam as moças cuidadosamente procurando quaisquer defeitos ou imperfeições físicas. Se uma menina era considerada satisfatória o chefe eunuco a apresentava para a mãe do sultão que seria responsável pela aprovação final.


Uma vez confinada ao harém, seu nome cristão era trocado por um nome persa que enaltecesse suas qualidades individuais. Se por exemplo, uma jovem tivesse bochechas rosadas  seria chamada 'Rosa primaveril'. Sendo agora uma odalisca era imediatamente convertida ao islamismo e iniciava um árduo treino, versando sobre etiquetas palacianas e a cultura islâmica.


A palavra odalisca vem de ODA (sala) e significa literalmente "mulher de sala" insinuando assim o seu státus. Odaliscas de extraordinária beleza e talento eram preparadas para se tornar concubinas, aprendendo a dançar, recitar poesias, tocar instrumentos e controlar as artes eróticas.


Onze, das mais atraentes odaliscas eram selecionadas como 'gedkli' - empregadas em espera - exclusivas para o sultão, e eram responsável por vesti-lo e banhá-lo, cuidar de suas roupas e servir-lhe a comida. Consta que algumas dessas meninas também aprendiam a ler, escrever e também a tocar harpa, bordar, costurar e cantar.


Sendo sempre do agrado do sultão permaneciam a serviço do mesmo, ou poderiam ser oferecidas de 'presente' a alguém, se ele assim desejasse.
Uma das maiores honras que o sultão poderia conceder a um de seus 'pashás' era presenteá-lo com uma odalisca que tivesse adornado seu palácio mas que não tivesse ainda se deitado com ele, ou, se tornado sua concubina.


Outras odaliscas eram colocadas para servir a mãe do sultão, ou as ' kadins' (esposas) deles, ou ainda os eunucos. Meninas abençoadas por físico forte se tornavam criadas ou administradoras. Cada  noviça era designada para um departamento do harém, estes gabinetes ministeriais incluíam a senhora dos mantos, a guardiã dos banhos, guardiã das jóias, leitora do alcorão, senhora dos alimentos, etc.... Era possível para uma odalisca crescer dentro do harém hierarquicamente, mas se de qualquer forma faltasse a ela talento ou, manifestasse  em algum momento qualidade indesejáveis, ela também corria o risco de ser banida do palácio e revendida ao mercado de escravos, por isso se desdobravam em favores e se subordinavam a miseráveis favores dentro do palácio....


Ui credo!!!!!! já pensou ter que ficar agradando as 'véias invejosas'?? Meu Deus...... liberdade e igualdade....Amém!


O texto é bom para refletirmos e valorizarmos pequenas conquistas, hoje o nosso mundo está (graças a Deus) tão longe desta triste realidade que até esquecemos que as mulheres já foram muito inferiorizadas e abusadas em todos os campos da vida,
Saudemos a liberdade, o amor e a igualdade entre os todos os povos!


Feliz dia Internacional das Mulheres Sempre!!!!!!
Namastê!